É muito gratificante quando saímos satisfeitos de uma cabine para imprensa, principalmente quando o filme é produto do nosso cinema. E mais gratificante ainda quando vemos um diretor que não costuma fazer muitos trabalhos longe de sua área de expertise, nos entregar um trabalho tão visualmente impactante. Mas, ao mesmo tempo que ficamos alegres com o bom trabalho realizado, ficamos tristes porque sabemos o péssimo trabalho de divulgação que esse ótimo filme vai ter. É exatamente isso o que vai acontecer com Grande Sertão novo trabalho do diretor Pernambucano Guel Arraes, que está programado para estrear em nossos cinemas no dia 6 de junho. Isso acontece pela falta de imposição da ANCINE (Agência Nacional de Cinema) que é totalmente submissa ao cinema Americano e é justamente esse cinema do Tio Sam quem dita as regras em nosso país. Só para vocês terem uma ideia do quão grave é essa submissão, em conversa informal outro dia com o também crítico P.H.Santos, ele me disse que a época do lançamento de Homem-aranha – Sem Volta Para Vasa, das pouco mais de 500 salas de exibição existentes em nosso país, o citado título ocupou cerca de 95%, ou seja, aproximadamente 475 salas exibindo um único título, tirando a chance de exibição de filmes não só do Brasil, mas também de outras partes do mundo.
Muitas vezes temos que recorrer aos circuitos dos “cinemas de arte” para termos alguma chance de poder ver algum desse material do cinema do mundo. Hoje a coisa melhorou um pouco com a chegada dos streamings, mas ainda temos um longo caminho a nossa frente. E do jeito que a coisa anda ruim no quesito frequência, não só com o nosso, mas em todo mundo, esse sonho de termos mais salas e mais espaço para o nosso cinema está se tornando cada vez mais distante, praticamente uma quase utopia. Exemplo recente disso é o longa Vermelho Monet do cineasta Halder Gomes que estreou em apenas 2 salas dos principais shoppings de Fortaleza e com apenas 1 sessão em cada sala e só durou 1 semana nessas citadas salas de exibição. Só ainda não saiu de cartaz devido ao circuito do cinema de arte que possui 2 salas no Centro Cultural Dragão do Mar em Fortaleza que ainda mantém o filme em cartaz. Um absurdo.
Guel Arraes já fincou sua marca na história do audiovisual Brasileiro quando nos entregou O auto da compadecida e Lisbela e o prisioneiro na área do cinema e Guerra dos sexos, Vereda tropical, Armação ilimitada e A comédia da vida privada quando se sabia fazer tanto boas novelas quanto boa comédia na seara da televisão. Grande sertão traz no elenco os Globais Caio Blat, Luisa Arraes, Roddrigo Lombardi, Luis Mello e Eduardo Sterblitch. Mesmo com alguns nomes citados do elenco serem atores totalmente singulares, todos estão cumprindo muito bem o papel. Quando um ator mediano ou ruim é comandado por um grande diretor, ele parece que esquece suas limitações e entrega um ótimo trabalho. Guel Arraes mostrou que tem esse dom. Apenas ví esse poder em Quentin Tarantino, que o mestre supremo nessa arte.
Nada em Grande Sertão é fora de contexto ou exagerado. A violência exorbitante, os diálogos extraídos do romance, a paleta de cores, o mundo distópico apresentado (nem tanto) e a trilha sonora. Guel Arraes adaptou na medida certa Graciliano Ramos e acertou quando trouxe a obra para a realidade das nossas periferias urbanas, que, se vistas em suas devidas proporções, não se diferenciam tanto do que foi mostrado.
Grande Sertão já ganhou alguns prêmios. Lançado no ano passado em alguns festivais pelo mundo, foi o grande vencedor de melhor diretor no 27º Festival de Cinema da Estônia. E concordo plenamente com o site Omelete quando ele diz “Prêmio de direção significa prêmio para os artistas e produtores do filme também porque ele só é possível se tudo isso funciona junto. É interessante também que um filme tão ancorado na realidade brasileira e na recriação do português que faz Guimarães Rosa tenha se destacado num festival internacional”.
Só para lembrar, quem foi esse tal de Guimarães Rosa ? João Guimarães Rosa foi um poeta, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. Nasceu em 27 de Junho de 1908 em Codisburgo, Minas Gerais. Além de Grande Sertão: Veredas também foi o autor de: Magma(1936), Sagarana(1946), Campo Geral (1964) e Noites do Sertão (1965).
Vá ao cinema. Prestigie o nosso cinema nacional. Divulgue e critique o fato de estarmos praticamente nas mãos do cinema Americano que é quem dita as regras sobre distribuição em nosso país. Se os distribuidores não se imporem, cada vez menos nosso cinema vai ter espeço em nosso próprio país. Minha nota para esse filme é:
Amei ! Vou assistir.
Sö pela crítica relatar que existem um quê de Tarantino nesta adaptação, já chamou a minha atenção. Li o Grande Sertão Veredas do mestre Guimarães Rosa na minha adolescência. Vou conferir com certeza.