A Compadecida - Clipe Oficial - O Auto da Compadecida 2

Como diz o famoso adágio popular: “Quem muito quer, acaba sem nada.” E é exatamente esse o sentimento que fiquei ao sair da cabine para imprenssa de um dos filmes nacionais mais aguardados desse ano, O Auto da Compadecida 2. Continuação do grande sucesso que começou como uma minissérie lançada pela Rede Globo em 1999 quando ela ainda produzia bons conteúdos originais.

Baseado na obra do mestre escritor Paraibano Ariano Suassuna (16 de junho de 1927 – 23 de julho de 2014), O Auto da Compadecida teve inúmeras adaptações tanto para o cinema quanto para a televisão. A mais famosa delas foi a de 99 dirigida por Guel Arraes e com um grande elenco. Nomes como Rogério Cardoso, Lima Duarte, Denise Fraga, Diogo Vilela, Selton Melo, Matheus Natchergaele, Virgina Cavendish, Bruno Garcia, Marco Nanini e Luis Melo. Nenhum projeto, baseado na obra que fosse tinha como dar errado com um elenco dessa magnitude e produzido e dirigido por Guel Arraes e sua equipe.

Uma daquelas obras televisivas que não importa o número de vezes que a vejamos, sempre descobrimos novos detalhes, novos diálogos, novas piadas, novos alguma coisa que aumenta ainda mais o nosso embevecimento pela obra original. Uma obra que não precisava de uma continuação e que deveria ter permanecido intocada.

Mas a exiguidade de ideias que tanto atores quanto produtores e redatores estão passando nesses últimos anos fazem com que um aluvião de continuações sem o menor sentido de ser invada tanto as telas grandes quanto as telas pequenas, deixando o público assistente carente de qualidade. Inúmeros são os fatores para que isso aconteça que vai desde o desdém que o governo tem para com a cultura em nosso país até a crise financeira, intelectual e política a qual nosso país tem atravessado nesses últimos anos. Eu acho que funcionaria muito bem se ao invés de um filme totalmente novo, uma edição comemorativa de 25 anos deveria ser lançada com algum material inédito, pois acredito que deva haver algum. Apresentar uma obra dessa magnitude  e totalmente atemporal para as novas gerações é, principalmente nesse caso, bem melhor. Tanto eu como a maioria das pessoas que assistiram a O Auto da Compadecida à época em que foi lançado não se incomodariam nenhum pouco de revê-lo em nossos cinemas.

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Mesmo sendo tecnicamente muito bem produzido, ficando aparente que estamos presenciando um cordel em movimento, falta emoção, tudo parece ser artificial em demasia, com pouquíssimas filmagens externas, salvando-se apenas pela dupla central de atores e apenas na primeira metade da projeção. Na segunda metade, é apenas um control c control v, um copia e cola da primeira edição deixando bem claro que tudo foi feito únicamente de maneira profissional, aonde as turbações ficaram na tela e não chegaram no público.

A pergunta que não quer calar, com todos esses atributos desfavoráveis, será que vai fazer sucesso? Tenho certeza que sim, pelo que o primeiro filme ainda é e jamais deixou e deixará de ser. Mas também é certo que cairá na deslembrança do coletivo em pouco tempo após encerrar sua carreira tanto nos cinemas quanto nos serviços de streaming. Teria uma sobrevida se ainda tivéssemos as locadoras de filmes ao nosso alcance, mas como praticamente elas não existem mais, a carreira de O Auto da Compadecida 2 será bem mais ínfera que a do primeiro exemplar.

Quando fui indagado sobre as minhas expectativa para essa segunda empreitada, eu disse que por melhor que fosse, o resultado final jamais iria chegar nem perto do primeiro filme. Primeiro porque boa parte do elenco principal não estaria presente nessa sequência. E segundo porque as novas adições ao elenco foram bem decepcionantes. Tão decepcionantes ao ponto de nem Guel Arraes que tem o dom de fazer com que atores ruins e mediócres trabalhem bem, conseguisse esse feito.

O roteiro foi escrito por Guel Arraes e João Falcão com as colaborações de Adriana Falcão e Jorge Furtado tendo como base a obra original de Ariano Suassuna.Como o primeiro filme era baseado na peça clássica de Ariano Suassuna (1927-2014), e o autor não escreveu uma continuação, a família do autor acompanhou os trabalhos, os roteiristas e diretores que se preocuparam em respeitar o universo do escritor. Tanto que trouxeram referências de outra peça dele, A Farsa da Boa Preguiça.

Selton Melo e Matheus Natchergaele voltam reprisando seus papéis como os anti-heróis do sofrido sertão nordestino e são, sem dúvida o melhor que essa produção tem a oferecer. As novas adições ficam por conta de Humberto Martins, mais canastrão do que nunca, Eduardo Steiblich, Fabiula Nascimento e Luis Miranda, atuando linearmente como de costume e Virginia Cavendish voltando em uma participação especial. Nem Taís Araujo conseguiu destaque como a Compadecida. Também, convenhamos que, chegar pelo menos perto do que Fernanda Montenegro foi, é quase impossível, não concordam?!

Infelizmente, minha nota para esse filme é:

numéro 5