Devido ao comprometimento que tenho com meu público e para não deixar eles sem material, pois não houve cabine para imprenssa de nenhum dos lançamentos cinematográficos dessa semana na nossa cidade. As produções A substância, Passagrana, Ligação sombria e A menina e o dragão irão ficar com as críticas atrasadas alguns dias, pois não podemos criticar algo que não vimos. Apesar de muitos críticos usarem bastante essa prática, eu acho um desrespeito e uma falta de ética com o público que termina por ir ver o filme baseado em uma matéria copiada e colada de outros profissionais. Isto posto, a crítica do lançamento da semana para a semana cinematográfica de 19 de setembro vai ser sobre Batman dirigido por Tim Burton em 1989, comemorando os 35 anos de seu lançamento oficial em nossos cinemas. E vamos a ela.
A década de 80 não foi muito favorável para os filmes de super-heróis no cinema. Quase todos os filmes desse gênero não foram produções de qualidade. Filmes ruins, na verdade. Produções como Mestres do Universo, Superman 3 e 4 e Howard o super-herói fizeram os fãs acreditarem naquele velho ditado: Nada está tão ruim que não possa piorar. Felizmente o diretor Tim Burton que tinha acabado de ficar conhecido para o mundo com Os fantasmas se divertem lançado em 1988, resolveu investir pesado em um gênero que não estava muito bem visto em Hollywood e cujos únicos filmes memoráveis que haviam sido lançados até então tinham sido os dois primeiros filmes do Superman lançados em 1978 e 1980, respectivamente. Vale lembrar que Batman, depois de Superman era o herói mais conhecido do mundo e estava saindo de uma fase de baixíssima popularidade com o lançamento da maravilhosa HQ O cavaleiro das trevas de Frank Miller. Batman o filme foi rejeitado por vários grandes estúdios que não estavam querendo investir nesse gênero. O único estúdio que aceitou o desafio foi a Warner, que liberou um orçamento, até que razoável para as produções da época de cerca de 30 milhões de dólares.
Tudo certo para o início do projeto? Longe disso. Tim Burton foi duramente criticado pelos fãs por ter escolhido Michael Keaton para o papel principal. Keaton que havia trabalhado apenas em comédias de mediano sucesso como Fábrica de loucuras, Corretores do amor, Johnny o gangster e Profissão: doméstico só começou a ficar mais conhecido após o sucesso comercial de Os fantasmas se divertem. Os fãs não acreditavam que ele poderia entregar a carga dramática que o personagem merecia. Até mesmo o diretor Tim Burton ficou receoso que sua produção se tornasse algo meramente comercial e que após o lançamento fosse rapidamente esquecido como quase todos os filmes de heróis da década de 1980. O único acerto a ser bem recebido por todos foi na escolha do ator para o papel de Coringa. Jack Nicholson não só aceitou o trabalho como também acreditou nele ao ponto de reduzir pela metade seu costumeiro astronômico salário de 10 milhões de dólares, por uma participação no resultados das bilheterias. O resultado dessa decisão? Apenas um dos maiores salários já pagos até hoje na história do cinema moderno. Nicholson acabou embolsando cerca de 90 milhões com o resultado final da bilheteria de Batman, algo na casa dos 450 milhões de reais, em valores de hoje. A moral de Jack Nicholson foi tanta que o nome do ator saiu na frente em todas as campanhas publicitárias do filme. Reza a lenda que o papel de Coringa foi oferecido a Robin Williams após uma primeira recusa de Jack Nicholson. Quando Jack Nicholson soube dessa oferta, aceitou o papel nas condições impostas por ele. Isso fez com que Robin Williams ficasse muito chateado com a Warner e se recusasse a participar de qualquer produção do estúdio. Situação que só foi revertida até o estúdio se desculpar formalmente com o ator. Somente nos Estados Unidos e Canadá, Batman faturou mais de 200 milhões de dólares em bilheterias e cerca de 410 milhões no mundo. Teve 84% de aprovação do público segundo o rotten tomatoes em mais de 250.000 comentários e 70% de aprovação da crítica.
Ao final das contas, Batman o filme, que tinha tudo para ter uma bilheteria mediana, acabou se firmando no mercado cinematográfico, teve uma segunda parte em 1992 e hoje é reconhecido como um clássico do gênero. Seu relançamento para a comemoração de seus 35 anos se dá juntamente com a nova versão do diretor Matt Reeves, cuja crítica vocês podem conferir clicando aqui.
As salas de cinema do Brasil, principalmente as das regiões norte e nordeste, deveriam sempre reservar um horário ou uma sala para exibição de filmes clássicos das história do cinema. Público para esses filmes temos. Filmes também. Apresentar um filme para um novo público é manter vivo o legado idealizado por seus realizadores e por muitas vezes, mostrar para novas gerações como os grandes mestres da sétima arte trabalhavam. O mestre Chico Anísio dizia que só existem dois tipos de humor: o engraçado e o sem graça. Na seara cinematográfica, podemos aplicar o mesmo princípio, só existem dois tipos de filme: o bom e o ruim. E ao final de cada espetáculo, o melhor crítico é sempre você. Seja você aquele público que lê, que ouve ou que assite. Fiquem todos com Deus e até os nossos próximos encontros.
Minha nota para esse filme é: